"LIVRAR-SE DE ILUSÃO" É ILUSÃO

Joel S. Goldsmith

Sempre houve, sobre a face da terra, pessoas espiritualmente iluminadas que perceberam a inexistência da morte;  algumas perceberam inclusive que não existe nascimento. Há aquelas que viram que não existe doença sobre a terra, nem realidade em quaisquer destas aparências negativas. No início, Gautama, o Buda, fundamentou toda a sua revelação não sobre o que Deus é, mas sobre a base de que o erro não é. A revelação que lhe veio, quando meditava, foi de que a totalidade destas aparências é ilusão, não é realidade, algo não se dando no tempo ou espaço, mas ocorrendo somente num conceito mortal universal.

Jesus teve esta percepção, pois, olhando para Pilatos,  disse: “Não terias poder algum”, mesmo com todas as aparências testificando o “fato” de ser ele o legislador e  o poderoso naquela região. Jesus era capaz de olhar toda doença e dizer à pessoa: “Qual é o teu impedimento? Levanta-te, toma teu leito e anda”. Era capaz de olhar para o pecador e dizer: “Nem eu te condeno”. Eu não penso que Jesus tenha condenado o pecado. Ele reconhecia que o pecado, como pecado, era inexistência.

Muito pouco deste princípio veio à luz nos anos seguintes, embora alguns místicos maravilhosos tivessem passado pela terra, e  atingido a consciente realização de Deus, a unicidade consciente com Deus, a união consciente com Deus; porém, em suas revelações, não notaram que atribuir a Deus a causa daqueles erros era tornar Deus responsável por eles, era fazer deles realidade. Assim, tivemos muito pouco sobre o assunto, até que surgiu o livro Ciência e Saúde original. Na obra original, tornou-se claro, outra vez, e pela primeira vez em séculos, que Deus é o único Poder e que estas aparências de discórdia não têm realidade. A Sra. Eddy reuniu todas as discórdias que, juntas, receberam o nome de mente mortal; depois, disse que a mente mortal não era uma coisa, mas apenas um termo para designar o “nada”. Alguns de seus primeiros alunos, dois deles inclusive eu pude conhecer em Boston, foram maravilhosos sanadores, sem mesmo terem profundo conhecimento de religião ou de Ciência Cristã. Foram, porém, sanadores grandiosos por terem captado bem este ponto único; assim, fossem quais fossem os problemas a eles trazidos, apenas sorriam e reconheciam: “Mente mortal, o nada”. Conseguiam se voltar daquilo sem reagir, sem temer, sem se proteger, apenas devido à percepção de que tudo que se lhes apresentasse como pessoa ou condição malignas poderia ser englobado naquela terminologia: mente mortal. E então, a expressão mente mortal passou a ser vista como um nome, não como alguma condição ou  pessoa, não como uma coisa, mas como um nome, utilizado somente para designar o “nada”.

Assim como este ensinamento ficou perdido, após a geração de Gautama Buda, também teve sua metade provavelmente perdida na Ciência Cristã. Alguns ainda existem que captaram este ponto, porém, não muitos. Nos dias de Buda, o erro era este: aqueles não próximos ao mestre original tomaram a palavra ilusão e a externaram. Diziam que pecado, doença e morte eram uma ilusão; porém, que era preciso se livrar da ilusão. O sentido original era outro: tudo já era  mera ilusão, uma imagem mental do nada. Uma ilusão no pensamento, uma imagem mental, sem substância, sem realidade, não passando de uma crença infundada sobre algo, um boato.

Porém, os hindus passaram a chamar este mundo de maya, de ilusão, e o descartaram, ora tentando escapar dele pela morte, ora ignorando-o. Bem, a Índia não é um bom modelo de uma fé verdadeira em continuidade. Contudo, os Cientistas Cristãos, muitos deles, fizeram o mesmo erro. Deixaram o hábito de dizer “estou com resfriado, estou com gripe”, para dizer “Eu tenho uma ilusão; você me ajuda a  ficar livre dela?” Ou, ainda, “Você me protegerá ou me fará um trabalho de proteção da ilusão?” Ora, um praticista poderia estar tão ocupado em Boston, às quartas e domingos, que  não teria nada a fazer, senão sentar-se dia e noite e fazer trabalho de proteção do inimigo.

Tudo isso volta à natureza inata, humana, que realmente acredita em dois poderes (o poder do bem e o poder do mal, chamado o poder de Deus e o poder de Satanás, ou, em filosofia, bem e mal, ou, na metafísica, imortal e mortal: sempre um par de opostos), em vez de se encarar um como tudo e  outro como  nada, uma “ilusão”, maya, um falso conceito de algo, uma ignorância de algo.

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