JOEL S. GOLDSMITH
As curas sempre ocorrem na medida de nossa compreensão da verdade sobre Deus, sobre o homem, a idéia e o corpo. A cura nada tem a ver com alguém “externo” chamado de paciente. Quando alguém pede uma ajuda ou cura espiritual, termina aí o papel que desempenhava, até que nos alerte de sua chamada “cura”. Nós não nos preocupamos com o assim chamado “paciente”, com sua solicitação, com a causa da doença ou com sua natureza, nem com seus pecados ou medos. Estamos apenas interessados na verdade do ser — a verdade de Deus, do homem, da idéia e do corpo. A atividade desta verdade em nossa consciência é o Cristo, o Salvador, ou a influência curadora.
O fracasso na cura resulta de grande falta de compreensão da verdade sobre Deus, o homem, a idéia e o corpo, e estas noções erradas têm sua origem principalmente nas crenças religiosas ortodoxas, ainda arraigadas em nosso pensamento. Só poucos se apercebem de quanto foram cegos pela ortodoxia supersticiosa.
Só há uma resposta à pergunta crucial “Que é Deus?”, e a resposta é: “EU SOU”. Deus é a mente e a vida do indivíduo. Qualquer defesa mental ou reserva íntima do indivíduo resultará certamente em fracasso. Existe apenas um EU universal, quer seja dito por Jesus Cristo ou por um João qualquer.
Quando Jesus disse “Aquele que vê a mim, vê Aquele que me enviou”, revelou uma verdade ou princípio universal. E isto é insofismável. Ou entendemos esta verdade ou não a entendemos — e se você não a entendeu, não precisa nem procurar outras razões para o fracasso na cura. A revelação de Jesus Cristo é clara. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” Se você não puder aceitar isso como um princípio e, por isso, como a verdade sobre você mesmo e sobre os demais indivíduos, não terá o alicerce sobre o qual se apoiar. A verdade é que Deus é a mente e a vida do indivíduo. Deus é o único EU.
A seguir surge a questão, “Que é o homem?”, e a resposta é que o homem é idéia, corpo, manifestação. Meu corpo é idéia, ou manifestação. E assim também meu negócio, meu lar e minhas posses, existem como idéia, como manifestação ou expressão. Por essa, e não por outra razão, meu corpo é a exata imagem e semelhança de minha consciência e reflete, ou exprime, as qualidades, o caráter e a natureza de minha própria consciência de ser.
Chegados pois a este ponto, entendemos que Eu sou Deus, que Deus é a mente e a vida do indivíduo, que o corpo existe como idéia de Deus. Deus, ou o EU SOU, é universal, infinito, onipotente e onipresente; por isso, a idéia de corpo é igualmente indestrutível, imperecível e eterna. Nunca nasceu e nunca morrerá. Nunca serei privado da percepção consciente de meu corpo e, por isso, nunca estarei sem meu corpo.
Quando olhamos para o mundo com nossos olhos, não vemos nosso corpo, não vemos esta idéia divina e infinita chamada corpo: o que vemos é um conceito, mais ou menos universal, desta idéia. Quando vemos um corpo saudável, uma bela flor ou árvore, estamos vendo um conceito bom da idéia de corpo, árvore ou flor. Quando vemos um corpo envelhecido e adoentado, uma flor murcha ou uma árvore seca, estamos vendo um conceito errôneo da idéia divina. Quando melhoramos nosso conceito de idéia, de corpo ou manifestação, chamamos esta concepção melhorada de cura. Na realidade, nada aconteceu ao tal paciente, ou ao seu corpo — a mudança ocorreu apenas na consciência do indivíduo, e se tornou visível como crença melhorada, ou cura. Por esta razão, apenas o curador deve aceitar sozinho a responsabilidade da cura e nunca tentar repassar a culpa do fracasso para a pessoa que lhe pediu ajuda. Pois todo indivíduo é EU SOU, Vida, Verdade e Amor, e seu corpo existe como idéia eterna, espiritual e harmoniosa, sujeita apenas às leis do Princípio, da Alma, do Espírito, e é nosso privilégio, dever e responsabilidade conhecer esta verdade, e a verdade libertará todos aqueles que se voltam para nós.
Como consciência individual, espiritual e infinita, eu corporifico meu universo, corporifico ou incluo a idéia de corpo, de casa, de atividade, de rendimento, saúde, riqueza e amizade, e estas estão sujeitas apenas às leis espirituais e à vida. O corpo não age sozinho: ele é governado harmoniosamente pelo poder espiritual. Quando o corpo parecer discordante, inativo, superativo, instável ou aflito por dores, sempre há a idéia subjacente a isso de que ele possa agir sozinho, que tenha o poder, por si, de se mover ou não, de sofrer, de doer, de adoecer ou de morrer. E isto não é verdade. Ele não dispõe de atividade ou inteligência próprias. Toda ação é espiritual, portanto, ação boa e onipotente. Quando reconhecemos esta verdade, o corpo responde ao conhecimento ou compreensão da verdade. Nenhuma mudança ocorre no corpo, pois o erro nunca esteve nele. O que muda completamente é o conceito de verdade que é, que foi e que sempre será. Lembremos aqui de que não há nenhum “paciente externo”, nenhum corpo fora daqui a ser curado, melhorado ou corrigido. Trata-se sempre de uma falsa idéia ou crença no pensamento do indivíduo que deve ser corrigida.
Quando começamos a compreender que o corpo não age sozinho, que ele apenas responde aos estímulos da mente, podemos desconsiderar as chamadas condições físicas desarmônicas e nos fixar apenas na verdade de que a Vida sempre se expressa harmoniosamente, perfeitamente e eternamente como a divina idéia de corpo.
A compreensão de que EU SOU consciência espiritual, individual e infinita, que corporifica toda idéia correta e a governa com harmonia, nos trará saúde, harmonia, lar, emprego, reconhecimento, paz, alegria e domínio. Compreender que isto é verdade para todos os indivíduos, desfaz a ilusão de ódio, inimizade e hostilidade. E isto também faz de você um praticante, um curador ou um mestre, mesmo que não faça desse trabalho uma profissão.
Passemos agora a encarar nossas superstições ortodoxas, para delas nos livrarmos. Jesus foi enviado ao mundo para livrá-lo do pecado, da doença ou da escravidão? Não, Deus, o Princípio infinito, a Vida, a Verdade e o Amor não conhece o erro, o mal, o pecado nem o pecador. Jesus viu tão claramente esta verdade que tal visão fez d’Ele o Salvador, o curador, o mestre; e o mesmo poderá ocorrer conosco. A ação da Verdade na consciência individual é o único Cristo. O Cristo nunca é uma pessoa. A ação da Verdade na consciência individual constitui o único Cristo, sempre presente, aquele que era “antes de Abraão”. Esta atividade da Verdade dentro de você é o seu Cristo. A ação da Verdade na consciência de Buda revelou a natureza do pecado, da doença e da morte como sendo ilusões ou miragem. Esta mesma ação de verdade na consciência de Jesus Cristo revelou a nulidade da matéria; desdobrou-se como consciência curadora, diante da qual desapareciam o pecado e a doença, e a própria morte era vencida. Todo conceito errôneo, quer do corpo, do negócio, da saúde ou da igreja, deve desaparecer na medida em que a idéia correta sobre isso se instala na consciência individual e coletiva.
E que dizer da imaculada concepção, ou nascimento espiritual? A imaculada concepção ou nascimento espiritual é o alvorecer da ação da Verdade na consciência individual, ou a Cristo-Idéia. Apareceu em Jesus como a revelação de que “Eu sou o caminho, a verdade e a vida… eu sou a ressurreição e a vida… Aquele que me vê, vê Aquele que me enviou”. A ação da Verdade na minha consciência, o Cristo de meu ser, está revelando que eu sou consciência espiritual individual, infinita, que corporifica meu universo, incluindo meu corpo, minha saúde, prosperidade, meu lar, minhas amizades, a eternidade e a imortalidade.
Deixemos que a ação da Verdade em nossa consciência seja o primeiro e único objetivo, e nosso Cristo se nos revelará, em seu modo individualizado.
Não existe o mal. Por isso, paremos de resistir a uma discórdia específica, ou a uma desarmonia da existência humana que se nos depara agora. Tal aparente discórdia desaparecerá assim que formos capazes de abandonar a resistência contra ela. E nossa capacidade de fazer isso está na proporção de nossa percepção da natureza espiritual do Universo. E uma vez que isso é verdade, é evidente que nem o céu nem a terra podem conter o erro de qualquer natureza; assim, o pensamento humano não iluminado vê o erro bem ali onde Deus brilha, a discórdia ali onde há harmonia, o ódio onde transborda amor e o medo onde de fato está a confiança.
O trabalho em que nos envolvemos é a conscientização de que somos consciência espiritual, infinita e individual, que incorpora dentro de nós mesmos todo o bem. Este é o cântico que cantamos, o sermão que pregamos, a lição que ensinamos e, até que nos venha a realização, será nosso tema, nosso leitmotiv. É o fio prateado da verdade que une todas as mensagens.
Nada pode vir de fora de nós; nada pode nos ser acrescentado. Já somos o vertedouro da consciência de onde jorra o Infinito. Aquilo que recebe o nome de humano em nós deve ser aquietado, para se tornar uma clara transparência através da qual nosso infinito Ser individual possa aparecer, se expressar ou revelar.
Quando olhamos as cataratas do Niágara, podemos até imaginar que, com tanta água a correr continuamente, venha a secar; mas, se olharmos para além do quadro próximo, veremos o Lago Erie e perceberemos que se trata de fato não de cataratas de Niágara, mas que este é o nome dado ao Lago Erie no lugar onde se derrama no precipício formando a cascata. A inesgotabilidade da cascata de Niágara é garantida pelo fato de que sua origem, aquilo que constitui o Niágara, é na realidade o Lago Erie.
E assim é conosco. Nós somos o ponto onde Deus se torna visível. Nós somos Deus-sendo o Verbo feito carne. Nossa fonte, aquilo que nos constitui, é Deus — o Ser divino e infinito. Nós somos Deus-sendo, Deus-aparecendo, Deus-se manifestando.
Conta a história que Marconi, quando ainda bem jovem, estava seguro que seria aquele que daria ao mundo a comunicação sem fio, e não os muitos cientistas mais velhos que o vinham tentando havia anos. Após cumprir sua promessa, foi-lhe perguntado porque tinha tanta certeza de que seria bem-sucedido. Ele respondeu que os demais cientistas estavam buscando primeiramente um meio de vencer a resistência do ar às mensagens enviadas através dele, enquanto ele já havia descoberto que não havia resistência alguma.
O mundo combate uma força do mal, porém nós descobrimos que não há tal força. Enquanto a matéria medica busca vencer ou curar as doenças e a teologia luta para superar o pecado, nós aprendemos que não há realidade na doença e no pecado, e as nossas assim chamadas curas se efetuam por causa desta compreensão.
Sabemos que existem estas aparências humanas chamadas pecado e doença, mas também sabemos que por causa da natureza espiritual infinita do nosso ser, pecado e doença não são realidades; não são o poder do mal; elas não têm um princípio de sustentação; por isso, elas existem apenas como irrealidades aceitas por reais, ilusões aceitas como fatos, a interpretação errônea daquilo que de fato é.
Nós nos amarramos com a crença de que haja um poder fora de nós mesmos — o poder do bem e do mal. Todo o poder foi dado a nós. E este poder é sempre bom, por causa da Fonte infinita de onde emana. O reconhecimento deste grande fato nos traz uma paz e uma alegria indizíveis, mas sentidas por todos aqueles que entram na esfera de nosso pensamento. Isto nos torna amados. Traz o reconhecimento e a recompensa. Garante-nos um lugar no coração dos homens e se torna a base de infindável boa vontade.
Sempre que se defrontar com um problema, independentemente de sua natureza, busque a solução dentro de sua própria consciência. Em vez de correr de um lado para outro, de buscar uma resposta com esta ou aquela pessoa, em vez de buscar a solução fora de si mesmo, volte-se para dentro. Na quietude e no silêncio de sua própria mente, deixe que a resposta para o problema brote por si mesma. Se fracassar uma, duas ou três vezes, tendo se voltado para a paz de seu reino interior, em perceber a resposta como um todo, tente de novo. Nunca será tarde demais, nem a solução aparecerá tarde demais. Quando aprendemos a nos tornar dependentes deste meio para lidar com nossos problemas e nossas experiências, nos tornamos cada vez mais hábeis em reconhecer rapidamente a revelação da harmonia por parte de nossa mente.
Por tempo demais buscamos nossa saúde, nossa paz e prosperidade fora de nós mesmos. Voltemo-nos agora para dentro e aprendamos que aqui, no reino de nossa consciência, nunca há fracasso ou desapontamento; nem tampouco nos depararemos com delongas ou traições, sempre que encontrarmos a calma de nossa própria Alma e a presença do Princípio que guia, que protege e governa, e ampara cada passo de nossa jornada.
Não nos surpreendamos, pois, quando se nos revelar a grande verdade de que nossa consciência é todo-poderosa e é o único poder que atua nos nossos negócios, que controla e mantém nossa saúde, que nos dá a percepção e a orientação necessárias ao nosso sucesso em todos os caminhos da vida. Isso o espanta? Não é de admirar! Até agora acreditávamos que houvesse, algures, um Poder deífico, uma Presença suprema que, se pudesse ser encontrada, nos ajudaria, e até curaria nossos corpos de seus males.
Torna-se agora claro para nós que a Deus-consciência é a própria consciência do indivíduo; é a onipotência e onipresença que nunca nos deixará e nunca nos abandonará, mais próxima que nosso próprio alento. Não precisamos dirigir-lhe preces, fazer-lhe pedidos ou buscar de algum modo o seu favor: basta-nos este reconhecimento, que leva à completa percepção desta verdade. A partir de agora, podemos relaxar e sentir a segurança desta presença constante e o poder desta consciência iluminada. Agora podemos dizer: “Não temerei aquilo que um homem possa me fazer”. Não mais recearemos condições ou circunstâncias aparentemente externas ou fora do nosso controle. Sabemos agora que tudo o que possa se tornar conhecido em nossa vida, ocorre de fato dentro de nossa consciência e, por isso, sujeito a sua direção e controle.
Tampouco esqueceremos a profundidade do sentimento que acompanha esta revelação dentro de nós, assim como o sentido de confiança e coragem que imediatamente lhe vem a seguir. A vida já não é uma seqüência de eventos problemáticos, mas uma jubilosa sucessão de fatos agradáveis. O fracasso é visto como o resultado da crença universal em um poder externo a nós mesmos; enquanto o sucesso seria a conseqüência natural de nossa percepção do infinito poder interior.
O alívio do medo, das preocupações, da dúvida, deixa-nos livres para atuarmos normalmente, de modo saudável e confiante. O corpo reage imediatamente ao estímulo vindo do interior. Uma nova vitalidade, resistência e harmonia física se seguem tão naturalmente como o repouso segue ao sono. Bem pouco sabemos da vastidão de nossa riqueza interior até conhecermos o reino de nossa própria consciência, o reino da Alma.
Quando, em silêncio, nos adentramos ao templo de nosso ser para obter resposta a alguma pergunta importante ou a solução de um problema vital, será melhor não formularmos nenhuma idéia por nós mesmos, não traçarmos nenhum projeto nem permitir que nossa vontade sobre o assunto gere nossos pensamentos. No lugar disso, aquietemos o mais possível nossa mente “tagarela” e adotemos uma atitude de escuta. Não será nossa mente pessoal ou mente consciente que nos dará uma resposta, nem a mente educada e formada pelo nosso meio ambiente e nossa vivência, e sim a Mente de Deus, a nossa Realidade, a Consciência criativa. E esta é melhor ouvida quando os sentidos e a mente intelectual estão calados.
Esta divina Consciência não só nos mostra a solução de todo e qualquer problema e a direção correta a seguir em qualquer situação mas, sendo infinita, é a consciência de todo indivíduo e faz convergir todas as pessoas e circunstâncias para o bem de todos.
Obviamente não podemos esperar que esta consciência universal atue em nosso favor e provoque perdas ou destruição para outros. O que é conseguido dentro e através do reino de nossa mente é sempre construtivo, quer individual, como coletivamente. Por isso nunca pode ser um meio de prejuízo, perda ou injúria para os outros. E nós nem dirigimos nosso pensamento para os outros, ou projetamo-lo para fora de nós em qualquer direção. O que nossa mente estiver desdobrando para nós, estará, ao mesmo tempo, operando como consciência de todos os envolvidos na ocasião. Nós nunca precisamos nos preocupar em “encontrar” alguma outra mente ou influenciar alguma pessoa. Lembremos de que a atividade da Consciência da qual somos uma manifestação exerce sua influência sobre todos aqueles que podem estar afetados ou envolvidos na situação ou no problema.
Não há problemas sem solução na Consciência, e esta mesma Consciência, que é nossa consciência individual, é o único poder necessário para estabelecer e manter a harmonia de tudo o que nos diz respeito. É o nosso voltar para dentro que traz à luz as respostas que já existem. Nossa atitude de escuta nos torna receptivos à presença e ao poder dentro de nós. Nossos períodos de silente contemplação revelam a força infinita e a energia construtiva, a direção inteligente que sempre habita em nós. Descobrimos, pois, em nosso reino mental, nossa Lâmpada de Aladim. Em vez de esfregá-la e exprimir um desejo, nos voltamos para nosso interior em silêncio e ouvimos — e tudo o que for necessário para o sucesso e a harmonia da vida, flui em abundância; nós aprendemos a viver com alegria, saúde e sucesso —, não em função de qualquer pessoa ou circunstância externa, mas por causa da influência e da graça internas de nosso ser.
Já não há necessidade de tentar dominar nossos sócios ou membros de nossa família. A lei interior mantém nossos direitos e privilégios. Todo desejo bom de nosso coração é agora satisfeito sem conflitos, sem medos ou dúvida. Quanto mais aprendermos a relaxar e observar ligeiramente nossos desejos, mais rapidamente e facilmente serão satisfeitos. Não nos é solicitado que andemos sofrendo pela vida ou que lutemos sem descanso por algum bem desejado — embora tenhamos falhado em perceber a presença de uma lei interior capaz de determinar e manter nosso bem-estar material.
De início, pode nos parecer estranho perceber que leis interiores governem eventos materiais — e pode parecer difícil, de início, alcançar o estado de consciência em que tais leis do nosso ser profundo se tornam expressões tangíveis. Nós o alcançamos, contudo, na medida de nossa habilidade para relaxar mentalmente, para atingir uma paz e uma calma interiores, e a partir disso contemplar silenciosamente as revelações que nos vêm do nosso íntimo. A quietude e a confiança logo nos trazem à presença da realidade e das verdadeiras leis que nos governam.
Para que não surja em seu coração a pergunta de como uma lei atuante em sua consciência, sem esforço volitivo ou direção, possa afetar pessoas e circunstâncias externas, peço-lhe que observe o resultado do reconhecimento das leis interiores e que verifique isto pela observação.
Ainda teremos clara a percepção do fato de que abarcamos nosso mundo dentro de nós mesmos; que tudo o que existe, pessoas, lugares e coisas, vive apenas dentro de nossa própria consciência. Nunca poderíamos ter consciência de algo fora do reino de nossa própria mente. E tudo o que está dentro do nosso reino mental é alegre e harmoniosamente regido e mantido pelas leis interiores. Nós não dirigimos ou forçamos estas leis: elas operam eternamente dentro de nós e governam o mundo exterior.
A paz interior se torna harmonia exterior. Assim que nosso pensamento assumir a natureza da liberdade interior, perderá o sentimento de medo, de dúvida e de desencorajamento. Quando a percepção de nosso domínio se fixa no pensamento, tornam-se evidentes uma certeza maior, uma grande confiança e firmeza. Tornamo-nos um novo ser, e o mundo reflete para nós este novo e mais alto conceito que temos dele. Aos poucos, desenvolve-se dentro de nós uma nova compreensão de nossos companheiros de jornada e de seus problemas, e brota de nós mais amor, mais tolerância, mais cooperação, mais ajuda e compaixão. Notamos que o mundo responde a este novo conceito que temos dele, e então todo o Universo vem a nós e deposita seus tesouros em nossas mãos.
Muitos tratados e convênios alentadores têm sido firmados entre homens e nações, e quase todos falharam, pois que nenhum documento pode ser mais valioso que o caráter de quem o assina. Quando estivermos envoltos pelo fogo de nosso ser interior, não precisaremos mais de contratos e acordos escritos, pois fará parte de nossa natureza básica o ser honesto, justo, inteligente e gentil — e estas qualidades são encontradas em todos que vêm compartilhar nossa experiência no lar, no escritório, nas lojas e em todos os caminhos da vida. O bem manifesto em nossa consciência volta a nós numa “medida sacudida, cheia e transbordante”.
Nesse novo estado de consciência, somos menos aborrecidos com as ações dos outros, menos impacientes com suas insuficiências, menos incomodados com seus erros. Do mesmo modo, em vez de sermos impedidos e limitados por condições externas, nós não as defrontamos, mas passamos por elas com quase nenhuma preocupação. Percebemos que algo dentro de nós rege nosso universo; uma Presença interior mantém a harmonia exterior. A paz e a quietude de nossa Alma são a lei da harmonia e do sucesso do nosso dia-a-dia.
Tudo o que nos ocorreu antes disso será uma nulidade, se não percebermos que, acima de todo conhecimento da verdade, devemos estar à sombra do Cristo.
Quando o Cristo penetra na consciência do indivíduo, o sentido pessoal de “eu” perde vigor. O Cristo se torna nosso ser verdadeiro. Não temos desejos, vontades ou poderes por nós mesmos. O Cristo estende sua sombra sobre nossa individualidade. Por vezes, ainda percebemos em nossa bagagem este sentido de finitude que tenta se reafirmar e mesmo dominar uma situação. “Pois o bem que quero, não faço; e o mal que não quero, este eu faço”, disse Paulo.
Deixemos, pois, claro que o “eu” pessoal não pode curar, ensinar ou dirigir com harmonia. Ele deve ser mantido sob controle para que o Cristo possa ter o completo domínio sobre nossa consciência.
O trabalho que é feito com a “letra da verdade”, com declarações e os chamados tratamentos, é insignificante se comparado com aquele conseguido quando rendemos nossa vontade e nosso agir ao Cristo.
O Cristo se torna mais claro à nossa consciência naqueles momentos em que nos deparamos com problemas para os quais não temos resposta, e não temos poder para superá-los; percebemos aí que “eu, por mim mesmo, nada posso fazer”. Nesses momentos de auto-anulação, o Cristo docemente estende sua sombra sobre nós, permeia nossa consciência e traz a “paz, sê quieto”, ó mente atribulada.
No Cristo encontramos o repouso, a paz, o conforto e a cura. O poder natural do sentido espiritual nos invade, e a discórdia e a desarmonia se esvaem, como a escuridão desaparece com a chegada da luz. De fato, isto só é comparável com o alvorecer; o influxo gradual de Luz divina clareia e dá cor à cena em nossa mente, e desfaz uma a uma as ilusões dos sentidos, os recantos mais escuros do pensamento humano.
A faina do dia-a-dia quer nos subtrair este grande Espírito, até que tenhamos o cuidado de nos recolher com freqüência ao santuário do nosso ser interior, e ali deixar que o Cristo seja nosso hóspede de honra.
Nunca permita que conceitos vãos ou crença em poder pessoal o afaste desta experiência sagrada. Esteja pronto. Fique receptivo. Aquiete-se.