Se houver apenas UMA única coisa, o que poderá haver ao lado dela para com que se possa estar em harmonia ou em desarmonia? Quando só há UM, que algo mais pode haver para poder se tornar amigo ou hostil? Se pudermos alcançar um estado espiritual de UNIDADE, a percepção da existência de um único EU, uma sensação de que “EU SOU” e de que “NÃO HÁ OUTRO AO LADO DE MIM”… se pudermos atingir tal estado espiritual, o que poderá haver para que possamos nos reconciliar? A resposta é: nada. “Eu sou Deus, e ao lado de MIM não existe outro”.
Esse é o estado de que o poema da Seicho-no-Ie está falando. Quando ele diz: “Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra”, está na verdade dizendo: “torna-te UM com todas as coisas do céu e da terra”.
Não há como alcançar um relacionamento com Deus, se não for através da UNIDADE. A UNIDADE é o lugar onde Deus reside, é seu endereço, seu CEP… Ninguém pode vir a conhecer verdadeiramente a Deus tentando isso através da dualidade.
O sentido da palavra “reconciliar”, contida no poema, traz o significado de que devemos perceber que nós não somos seres separados/isolados de pessoas e coisas que existem além de nós. O nosso Ser abarca toda a existência, toda a vida: e isso abrange todas as pessoas coisas e fatos. O Ser que somos é Consciência – é como se fosse a tela de uma televisão, onde todas as cenas nela aparecem. Tudo com que nos deparamos são “cenas” aparecendo diante de nossa Consciência. Nela, vemos a cena de que “somos um corpo material”, uma cena de que “eu estou separado do outro, porquanto tenho o meu próprio corpo físico e ele tem o dele, e os nossos corpos não são o mesmo”… tudo isso é uma ilusão que nos faz acreditar que somos os personagens que aparecem na tela da Consciência, ao invés da própria Consciência, onde tudo aparece. Você já parou para pensar ou tentar perceber: Você existe no mundo, ou o mundo existe em você? Você está dentro do mundo, ou é o mundo que está dentro de você? Se o mundo estiver contido dentro de você, então quem você é?
O texto que segue, de Allen White, fala exatamente sobre isso. Muito oportuno, portanto, inserí-lo neste post:
“Muitos, quando pensam em si mesmos, ou quando pensam sobre a própria identidade, confinam-se à forma corporal. Se pedirmos que se apontem, apontarão o próprio corpo. Com tal conceito finito de si mesmos, não é de se estranhar que a vida e a experiência destes aparentem ser tão limitadas! O antídoto ao que se mostra como limitado viver, está na REALIZAÇÃO DA IDENTIDADE INFINITA.
Quando você diz com compreensão (como fez Jesus), ‘Eu e o Pai somos um’, elimina todo o conceito de um eu finito. Você entende que sua Identidade Infinita não está confinada dentro de uma forma chamada Corpo; antes, você se compenetra de que seu Corpo está incluso em sua Identidade Infinita.
O seu ‘Eu’ é sem fronteiras. O seu ‘Eu’ é ilimitado e inconfinado. O seu ‘Eu’ é Onipresente. Há somente o UM. Este Um é Infinitude em Si. Este Um é o “Eu” que você é.
Não creia nisso só porque eu escrevi. Leve o assunto à sua própria Consciência (Deus). Indague se é verdadeiro. Ouça a resposta. Não se deixe desapontar esperando pela resposta a ponto de criá-la de você mesmo.
Uma vez descoberto seu Eu infinito (ou mesmo antes), contemple-o assiduamente e verá sua vida “se expandir”, sem nenhum esforço, em surpreendentes maneiras de evidenciar o seu Eu infinito.”
Você é o EU ÚNICO! O EU ÚNICO que manifesta tanto a sua forma física, quanto a forma física do outro, que parece ser isolado e separado de você. Quando você é o EU ÚNICO, o outro também é você! Você está na Unidade! Perceba essa Unidade existente entre todas as coisas! E mantenha sua Consciência nesse âmbito, longe das ilusões de separatividade, de dualidade. Habituando-se a manter sua atenção elevada ao plano da Unidade, virá o dia, quando você menos esperar, em que se dará o seu despertar espiritual: o mesmo despertar espiritual que aconteceu a tantos mestres iluminados, e que eles vêm tentando nos transmitir ao longo dos tempos.
Dois posts atrás, na história que narra o encontro de Papaji com Ramana Maharshi, podemos observar que, assim que ele despertou, quando aconteceu a ele a tão esperada transformação espiritual, houve um súbito reconhecimento/compreensão de que aquele homem (Ramana Maharshi) com quem ele falava era, na realidade, aquilo que ele já era, e sempre havia sido! Ele reconheceu finalmente a Presença Única. Naquele momento, Papaji reconciliou-se “com todas as coisas do céu e da terra”. Todas as coisas do céu e da terra não eram outras senão ele próprio. “Reconciliar-se” significa perceber que eu e o outro somos UM – não somente “eu” e o “outro”, mas que tudo é UM.