NÃO SEJA "FOLHA BRANCA"

Dárcio

Envolvimento difere por completo de  participação. Quem estuda a Verdade não se envolve com o mundo das aparências, mas, por outro lado, tem nele tremenda participação! Por que? Por não haver dois mundos! Há somente a Realidade Espiritual, que reconhecemos plenamente em nossas meditações contemplativas. A Unidade do Universo Absoluto abrange esta imagem finita tridimensional, assim como a imagem colorida, vista numa TV, engloba a mesma imagem em preto-e-branco exibida por outro aparelho que apenas transmite dessa forma limitada.

No dia-a-dia, a harmonia gerada por nossas contemplações pode parecer “desarmônica” em muitas situações! Isto porque exatamente somos movidos a “participar” de tudo em nosso ambiente! Nesse ponto é que se faz necessário separar o que é “envolvimento” do que é  “participação”. Se meditamos e estamos convictos de que “somos um com Deus”, não devemos esperar que o dia todo seja uma calmaria paradisíaca! Alguns momentos poderão ser; outros não! E isto é natural! Não que iremos antever situações desarmônicas! Pelo contrário, estaremos conscientes de que a “harmonia sempre É”, e, justamente por isso é que o dia-a-dia nos apresenta situações em que iremos ter de participar de muitas maneiras, mas sem envolvimentos, para “fazer” com que as “aparências” se ajustem.

Há um texto de Khalil Gibran chamado “A Folha Branca”. Conta que uma folha branca disse ter sido criada pura, e que assim iria permanecer: pura e sem  negrura alguma que pudesse chegar junto dela. Assim o tinteiro a ouviu, os lápis a ouviram, e todos se afastaram dela. E o autor encerra o texto: “E a folha de papel, branca como a neve, permaneceu pura e casta para sempre, pura e casta — e vazia”.

Conheci pessoas no caminho espiritual que adotavam uma postura de indiferença diante de tudo! Pareciam estátuas! Entendiam que “não envolvimento” seria “não participação”. Com medo de entrar em discussões, em emitir firmes opiniões, enfim, com medo de  perder a suposta “paz” , optavam por somente a tudo observar, acreditando ser aquilo uma atitude muito espiritual! Este texto, “A Folha Branca”,  fez-me recordar esse tipo de postura! De fato, aparentemente, até eles poderiam mesmo estar se mantendo melhor  do que se entrassem em “confronto” com as pessoas e situações; mas, estariam se comportando como a “folha pura, casta e VAZIA!”. A Verdade não gera acomodação ou apatia na vida humana! Pelo contrário, ela gera as condições necessárias de “ajustes”. Aquele que teme participar de tudo, achando que evitar todo tipo de troca de idéias significa poupar discussões, atritos e desavenças, e que isto significa ser “místico”, desconhece o princípio de que “somos todos um”. Por sermos uma “unidade”, a participação nossa com “todos” é a participação global “conosco mesmos”; assim como corrigiríamos, na aparência, algo errado em nós mesmos, ao fazermos o mesmo com os demais, estaremos igualmente fazendo a nós mesmos! A Verdade é a Verdade! Onde o erro aparecer, deverá ser corrigido! Com nossa total participação e sem envolvimentos emocionais! Mesmo que momentaneamente as coisas se mostrem conturbadas!

O filho de Deus, na aparência, não é  vaca de presépio  nem galo de briga! Ele simplesmente deixa fluir a reação natural que cada situação for lhe requerindo! Após cada evento, as partes refletirão e a razão tomará conta! Se formos ver como Jesus agia, notamos que ele estava sempre participando de tudo, ora sendo manso, ora sendo ríspido, mas sempre sendo aquilo que cada situação lhe fosse exigindo! Contudo, lembremo-nos: ele  agia após orar e discernir com clareza sua “unidade com Deus”. Somente assim, poderemos agir livres e confiantes de que as nossas atitudes, ou opiniões emitidas, são realmente as corretas e cabidas.

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OBS: Durante as contemplações, devemos olhar todo o quadro visivel como ILUSÃO! E incluir, neste quadro, a aparência humana do nosso ser. Deus é o Ser que somos! E o Reino de Deus é sempre o local em que estamos!

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