A ideia de que o bem é tudo e de que o mal não é coisa alguma, uma nulidade, ideia essa demonstrada por Cristo Jesus e elucidada pela Ciência Cristã, parece um tanto remota para muita gente – às vezes até para aqueles que estudaram a Ciência Cristã a vida inteira. Afinal, parece que vivemos num mundo dualista em que o bem e o mal participam igualmente de todos os momentos da vida diária. Ainda assim, por mais grandioso e idealista que esse conceito possa parecer, a totalidade é a ideia que as pessoas, instintivamente, têm o desejo de ver manifesta. Em nenhum ponto este anseio é tão profundo, ou tão frequentemente explícito, quanto em relação ao amor. As pessoas dizem que se sentem amadas parte do tempo, mas admitem ter o desejo íntimo e sincero de se sentirem profundamente queridas todo o tempo. Fiquei muito comovida, recentemente, pelo comentário honesto e perspicaz de uma mulher identificada simplesmente como Elisabeth. Num texto escrito em 1936, intitulado “Todos os cães de minha vida”, ela exclama (referindo-se aos cães): “Quando amam, amam com constância, imutavelmente, até o último suspiro. É assim que eu quero ser amada”. Embora essa questão todo-abrangente do amor sempre pareça estar no topo dos desejos humanos de constância, o conceito de totalidade permeia todo anelo humano pelo bem. Ouço diariamente as pessoas dizerem que se sentem criativas, fortes, alegres, satisfeitas, saudáveis e em paz, parte do tempo. Dizem que têm a capacidade parcial de andar, ouvir e sentir. Mas naturalmente querem a capacidade total todo o tempo. Certamente esse é o senso prático de totalidade, que para cada um significa algo diferente. Estava pensando nisso, certo dia, quando a profecia messiânica de Isaías me veio distintamente ao pensamento. “O Senhor mesmo vos dará sinal. Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel”. Subitamente, este trecho se me apresentou sob nova luz, como a predição do aparecimento na carne, a manifestação prática da ideia da totalidade de Deus. Emanuel significa “Deus conosco”. Significa que tudo o que o Amor divino dá, está conosco, com cada um de nós, todo o tempo. Essa mensagem da onipresença divina, que dissolve progressivamente as crenças mortais de tempo e espaço, demonstra tanto a infinidade como a eternidade; a Vida e sua bondade enchendo todo o espaço a cada momento. Emanuel nos salva. É a ideia da totalidade do Amor na consciência humana, reprovando o dualismo que diz que o mal existe (ocupa espaço) e que é tão real quanto o bem. Também repreende a interpretação insatisfatória sobre a relação entre Deus e Sua criação, conhecida como “intervenção divina”, a crença de que Deus não está conosco a todo momento, mas que se torna uma presença ocasional quando O chamamos e quando Ele quer vir. Cristo Jesus era verdadeiramente a plena corporificação da profecia de Emanuel. Tudo o que ele fazia era uma firme e fulminante repreensão à alegação perversa de que o bem não está sempre presente, não é onipresente. Quando a enfermidade, a cegueira, a surdez e a paralisia alegavam que a saúde, as faculdades e a ação normal podiam variar ou estar ausentes, a cura instantânea demonstrava sua presença ininterrupta no homem, a expressão do bem infinito. Quando os pescadores pareciam estar ”desempregados” por falta de “produto”, ou grande número de pessoas estava sem comida, a visão clara que Jesus tinha da realidade espiritual provou que o homem, a imagem do Espírito, é inseparável da provisão de Deus. Quando pecadores foram destinados ao ostracismo ou execução, Jesus os curou, mostrando-nos para sempre que a inocência e a pureza estão eternamente com o homem, a semelhança da Alma. E quando era chamado para o leito, ou mesmo para o túmulo, dos mortos, ele os ressuscitava, demonstrando “Emanuel”, a Vida conosco.
A ideia de Emanuel apresentada no Antigo Testamento profetiza com tocante simplicidade o Cristo, a ideia espiritual de filiação, e a Ciência dessa filiação. Ambas, a filiação e a Ciência, precisam ser compreendidas, se quisermos demonstrar em nossa vida a totalidade de Deus, a constância do amor e da bondade. Considere primeiro a ideia de filiação. Não faz muito tempo, descobri que há poucas referências à filiação espiritual, no Antigo Testamento. As referências a Deus como Pai ou Mãe, no Antigo Testamento, são indiretas e aparecem principalmente como comparações: o Senhor se compadecerá como um pai, guiará como uma águia que “voeja sobre seus filhotes”. A ênfase do Antigo Testamento é, principalmente, no homem como objeto do amor de Deus. “Não temas, homem muito amado”, lemos no livro de Daniel, “paz seja contigo, sê forte, sê forte”. Nessa bela e tríplice bênção, se nos assegura que o homem, como objeto do amor de Deus, pode ter a expectativa de não sentir medo, de estar em paz e de ter autoridade. É difícil minimizar, sob qualquer ângulo, o significado de ser simplesmente o amado de Deus. Ainda assim, chegamos à conclusão de que, ao nos vermos apenas como o objeto do Amor, perdemos parte da visão, porque não fica explicado inteiramente nosso merecimento de sermos profunda e constantemente amados. Isso tende a nos deixar a sensação de que Deus e o homem são dois seres separados, em dois lugares diferentes, eu aqui, sendo amado; Deus lá, mandando Seu amor em minha direção. Simplesmente continua a estar subentendida alguma distância. Só há um tipo de relacionamento que ajuda a explicar e a expressar a absoluta unidade e constância da relação do Amor divino com o homem: Deus e o homem vistos como Pai e filho, Pai-Mãe e sua descendência. Essa é a mensagem do Novo Testamento. Não uma ou duas vezes, mas muitas vezes há referência ao homem como filho descendente, ou herdeiro de Deus. E Deus “apresentou” Jesus declarando que ele era igualmente o objeto e o filho (manifestação) do Amor: “Este é o Meu filho amado, em quem me comprazo”. Uma profunda responsabilidade acompanha a descoberta do motivo de sermos tão amados. E há condições específicas vinculadas a sentirmos realmente o amor que nosso Pai celestial dedica à sua ideia espiritual, o homem: temos de rejeitar o erro de origem física, conhecer-nos espiritualmente, e amar à maneira imparcial, universal e indivisível do “amor de Emanuel” que enche todo o espaço e não concede nenhuma realidade ao mal. Em outras palavras, se quisermos escapar do mal e sentir o amor constante, a inteireza e a realização pelas quais ansiamos, e que pertencem de direito à descendência de Deus, temos de aceitar o amor incondicional que caracteriza nossa verdadeira natureza à semelhança do Amor divino.