Será que você se sente hesitante quanto a exercer a prática da Ciência Cristã para auxiliar outras pessoas? Acaso você não se considera suficientemente bom, ou que não está tão adiantado espiritualmente, ou que não é capaz de prestar aquela forma de ajuda que você muitas vezes recebeu? Ou acha que poderia deixar para mais tarde, quando você estiver mais preparado para ajudar? Se for assim, entendo como se sente. Talvez você queira pensar novamente sobre o caso. Aconteceu comigo, eu tive de reconsiderar esse assunto e contarei a você quando o fiz.
Eu estava servindo como Primeira Leitora em minha filial da Igreja de Cristo, Cientista, quando, uma semana, a Regra Áurea constou na Lição Bíblica. Lembrei-me de que eu deveria fazer aos outros o que eu gostaria que eles fizessem por mim. Uma coisa que outras pessoas, certamente, tinham feito por mim, durante anos, havia sido dar-me apoio em oração, quando eu o necessitava.
Recentemente notei que, para ser justa, eu deveria fazer o mesmo para os outros. De fato, despontou-me na consciência que para cada benefício que eu havia recebido pelas orações devotadas de alguém, eu tinha a obrigação de prestar assistência semelhante ao meu próximo. Passei a encarar a prática da Ciência Cristã em prol dos outros, não como uma atividade que eu escolheria no futuro, mas como uma exigência moral e espiritual que se me apresentava no presente. Reconheci que eu tinha de estar disposta a cumpri-la.
Não muito depois disso, uma praticista da Ciência Cristã, que atendia sempre a muitos pacientes, perguntou-me se, ocasionalmente, ela poderia dar meu nome a alguém que lhe pedisse ajuda, caso estivesse, no momento, impossibilitada de atender. Recordando o discernimento que tivera sobre a Regra Áurea, respondi que sim.
Passaram-se vários meses. Quase esqueci do acordo. Então, um dia, no meio do verão, recebi um chamado. Eu havia estado descontente todo o dia devido a diversas contrariedades e, praticamente, a última coisa no mundo que naquele momento eu me sentia capaz ou inclinada a fazer, era ajudar alguém em espírito de oração.
Quando atendi ao telefone, entretanto, as primeiras palavras que ouvi do outro lado da linha foram: “A senhora é praticista da Ciência Cristã?” De repente, lembrei-me do acordo com a outra praticista e respondi, sem muita convicção: “Sou sim, pelo menos sou estudante da Ciência Cristã”. A voz era de mulher e parecia preste a chorar. Ela falava em nome do marido, que havia tido, há algum tempo, uma constrição na garganta que o impedia de falar. Parecia que estava com medo e perguntou-me se eu podia ajudá-lo, ao que respondi afirmativamente.
Como eu nada sabia acerca da mulher, perguntei-lhe se possuía uma Bíblia. Ela disse que sim. Então, pedi-lhe que lesse para o marido o Salmo 23, usando a palavra Amor, um sinônimo de Deus, em substituição a Senhor, onde esta palavra aparece no texto. Ela disse que o faria e combinamos de conversar novamente na manhã seguinte.
Quando larguei o fone, pensei: “Em que eu me meti? Como posso ajudar alguém?” Senti-me tão deprimida todo o dia, que eu é que deveria pedir ajuda a alguém.
Enquanto eu estava em silêncio, na cozinha, acabando de jantar, meu pensamento começou a mudar. Lembrei-me de como eu havia me comprometido com a praticista que se sentia tão ocupada. Para ser exata, recordei a Regra Áurea. No mesmo instante, um pensamento bom ocupou-me a consciência: “Se Deus quer que eu ajude alguém, Ele também deverá dar-me a capacidade para fazê-lo”. Percebi que possuía essa capacidade, sem levar em consideração minha sensação do contrário. Eu sabia que Deus era inteiramente justo e não exigiria mais do que eu podia fazer. Também comecei a reconhecer que era Ele, e não eu, quem curava.
Fui à sala de estar e sentei-me no sofá. “Bem, admiti, devo agir como uma praticista”, pensei. “Como devo fazer?” Lembrei-me que a Sra. Eddy inclui em Ciência e Saúde um capitulo intitulado: “A Prática da Ciência Cristã”. Abri-o e comecei a ler.
Começa contando com pormenores a ocasião em que Cristo Jesus foi convidado à casa de Simão, o Fariseu, quando numa mulher, mais tarde identificada pela tradição como Maria Madalena, entrou sem ser convidada. Ela regou os pés de Jesus com suas lágrimas e ungiu-os com óleo. À medida que eu lia, tornou-se claro para mim que essa história era decisivamente importante, que representava uma profunda verdade espiritual fundamental para a prática da Ciência Cristã.
Pareceu-me que o que estava sendo enfatizado no capítulo escrito pela Sra. Eddy era a atitude da Madalena diante do Cristo. Aí estava uma mulher que, tendo sido pecadora, se arrependera e buscava perdão. Sua atitude mental, sua contrição e humildade estavam sendo recomendadas ao praticista da Ciência Cristã. Até mesmo um “pecador” pode praticar a Ciência Cristã, desde que se haja arrependido completamente, é o que esta parte do capítulo parece dizer. Esse pensamento me reconfortou.
Jesus disse que os pecados da mulher foram perdoados porque “ela muito amou”. Obteve o perdão por causa de seu amor. Comentando esse fato, Ciência e Saúde diz: “Se o Cientista tem bastante afeição cristã para conseguir seu próprio perdão e tal louvor como o que Madalena recebeu de Jesus, então ele é bastante cristão para exercer a práticacientífica e tratar seus pacientes com compaixão; e o resultado corresponderá à intenção espiritual.”
Não li além dessa frase. Vi claramente o que devia fazer. Precisava obter meu próprio perdão mediante a afeição crística, para que eu pudesse exercer a prática científica da Ciência Cristã. Como poderia eu obter meu próprio perdão? Fazendo exatamente o que Madalena fizera, curvando-me em humildade e arrependimento e permitindo que esse profundo amor espiritual a Deus, que exprime o verdadeiro caráter cristão, varresse da consciência humana tudo o que fosse dessemelhante de Deus. Durante mais ou menos uma hora, senti como se estivesse sendo batizada espiritualmente, pondo fora todas as impurezas, submissa ao Cristo, a Verdade. À medida que eu sentia a presença de Deus, via meu paciente de modo mais claro, nós dois tocados pelo espírito do Cristo, ambos perdoados, enaltecidos, curados. Quando fui dormir, naquela noite, sentia-me mais feliz do que vinha me sentindo havia dias.
Logo depois do desjejum, na manhã seguinte, falei com a esposa do paciente. Ela disse que o marido tivera uma verdadeira batalha no começo da noite, mas mais tarde as coisas começaram a melhorar. Então ela disse: “Aguarde um minuto. Irei buscá-lo. Ele mesmo falará com a senhora”. E ele veio ao telefone e agradeceu-me pelo que eu fizera.
Imagine quão grata eu fiquei ao único bom e grande Deus que “sara todas as tuas enfermidades” (Salmos). Todavia, eu estava menos impressionada com a cura, que ocorreu exatamente como eu esperava, do que com o outro aspecto do ocorrido.
Eu havia estado todo o dia anterior sentindo-me deprimida, imprestável, inútil. Mas Deus e Seu Cristo, em nenhum momento, me haviam abandonado. O que eu precisava fazer era corresponder ao bem sempre presente, sempre ao meu dispor. Acho que nunca mais me deixarei enganar pela crença de não estar preparada para ajudar.
(Extraído de O Arauto da Ciência Cristã – Abril 1992