O mais maravilhoso de tudo é que o poder de perdoar – seja a nós mesmos como aos outros – é divino e inerentemente nosso. Ninguém o pode fazer por nós. Mas é um poder que promove cura, harmonia, compreensão e boa vontade.
Se precisamos de alguma compreensão para perdoar, por outro lado, o perdoar nos traz mais compreensão, acrescentando bênçãos e virtudes outras.
Ainda que reconheçamos a necessidade de perdoar, às vezes nos é difícil expressá-lo cabalmente. É comum que as pessoas se atribuam um pecado imperdoável e severamente se punam. É uma visão humana pretensiosa de julgar-se muito elevado e capaz de agir melhor. Tais pessoas facilmente culpam e não perdoam a si mesmas nem aos outros. Ora, mesmo que a consciência mais alta que tenhamos hoje veja e se horrorize de um ato de infância e adolescência, deve compreender que, se tivesse real possibilidade de agir melhor naquela idade, não teria cometido aquele ato. Cada qual faz apenas o que pode fazer. E se a consciência atual, mais elevada, compreende aquela falha, por si já a liberta, porque não a cometeria de novo.
Deus é um Espírito de perdão. A questão de perdoar é inteiramente nossa, porque Deus não nos julga! Façamos, pois, nossa parte, perdoando a nós mesmos e aos demais e aceitando o perdão dos outros. Isso é indispensável para removermos os bloqueios psicológicos que impedem o fluxo do amor e da inspiração divina interna. O perdão influi igualmente sobre a saúde, mais do que supomos.
Deus jamais nega o Seu bem. Somos nós mesmos que, por divergência interna, pelo pensar errôneo e julgamentos descaridosos, nos separamos dEle e de Sua Graça.
Lembremos a passagem evangélica em que Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão os seus pecados contra mim? Sete vezes?” O Mestre replicou: “Não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete” (Mt. 18: 21-22). A resposta claramente mostra que devemos perdoar sempre! Não há fim nem limites ao perdão, assim como a todas as demais virtudes espirituais. Se houvesse término e limite para o amor, para a compreensão, para a compaixão ou para qualquer outro dom espiritual, nossas vidas seriam vazias. Toda pregação de Jesus nos exorta a perdoar.
Ainda que seja necessário andarmos a proverbial “segunda milha”, tenhamos a nobreza de tomar a iniciativa do perdão. Depois nos sentimos bem de havê-lo feito. Pequenas divergências nos relacionamentos humanos se agravam com o tempo, porque nenhuma das partes quer dar o primeiro passo em direção do desafeto, em busca da reconciliação. Infelizmente, a tendência aos mexericos, aos “leva-e-traz” – os mal-entendidos chegam a profundas rupturas, se logo não os sanamos com o perdão. Devemos ser misericordiosos conosco mesmos e com os demais. A humanidade está precisando de mais pontes para vencer os abismos. Mais pontes; menos muralhas. Viram o alívio causado pela destruição do muro de Berlim? Viram com que alegria se rasgou a Cortina de Ferro?
A alma espelha aquilo que pensamos e sentimos. A atitude imperdoadora nos isola do verdadeiro Ser espiritual – o Cristo em nós – impedindo-nos receber dEle a compreensão da verdade, a misericórdia, o amor. A menos que nos mantenhamos sintonizados ao Cristo interno, é-nos impossível ligar-nos ao Cristo, nos outros. É o Cristo, em ambos, que leva à compreensão e harmonia!
Quando uma divergência ou fato nos tenta a fazer um julgamento negativo de outra pessoa, ou de nós mesmos, relembremos os Evangelhos e busquemos em nós o mesmo Cristo perdoador que estava em Jesus. Ele é que nos dá a compreensão e o impulso perdoador, para recuperarmos a liberdade interna que é de valor inestimável. Ninguém pode ser interna e legitimamente livre, se não exercita o divino poder do perdão.
Deixemos, pois, que a nobreza do Espírito Se exprima em todas as nossas atividades e relacionamentos humanos, como também no modo de ver e compreender a nós mesmos.