HUBERTO RHODEN
Esses aforismos giram, quase todos, em torno da ideia central do Reino de Deus, que está no homem e que deve manifestar-se fora dele, na sociedade e no mundo inteiro.
Há entre esses pequenos capítulos do Quinto Evangelho, alguns tão profundamente místicos que não podem ser analisados intelectualmente. Os aforismos 13 e 13-A referem o seguinte:
Respondeu Simão Pedro: Tu és semelhante a um anjo justo.
Disse Mateus: Tu és semelhante a um homem sábio e compreensivo.
Respondeu Tomé: Mestre, minha boca é incapaz de dizer a quem tu és semelhante.
Replicou-lhe Jesus: Eu não sou teu Mestre, porque tu bebeste da fonte borbulhante que te ofereci e nela te inebriaste.
Então levou Jesus Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras. E, quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, esses lhe perguntaram: que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me – e das pedras romperia fogo para vos incendiar”.
O profundo silêncio de Tomé é a mais eloquente declaração da grandeza indizível do Cristo: abriu os canais para o influxo da intuição espiritual.
A última verdade sobre o Cristo não pode ser dita nem pensada. O que se pode pensar, já está adulterado; e, se o pensado e falado for escrito, completa-se a terceira falsificação da verdade.
As grandes verdades só podem ser recebidas em total silêncio, mensagem da própria alma do Universo. Por isto, Tomé preferiu calar-se duas vezes: não deu sua opinião sobre o Cristo, nem revelou aos outros o que o Mestre lhe disse quando o levou à parte e lhe falou a sós.
Quem quer saber realmente o que o Cristo é, deve calar-se em tão profundo silêncio receptivo que a cosmo-plenitude possa plenificar a sua ego-vacuidade. Podemos apenas soletrar o abc sobre o Cristo, mas, para saber e saborear realmente o que ele é, temos de entrar na Universidade Cósmica do silêncio.
O que há de mais estranho nessa passagem são as palavras que Jesus disse a Tomé: “Eu não sou teu Mestre”, porque já ultrapassaste o Jesus humano e entraste na visão do Cristo divino; bebeste da sabedoria suprema, e por isto preferiste calar-te.
Depois disto, o Mestre levou Tomé à parte e lhe revelou silenciosamente a plenitude do Cristo, revelação tão transcendental que Tomé não se atreveu a comunicá-la a seus colegas, que o teriam considerado louco e o teriam apedrejado como blasfemador; mas das próprias pedras teria saído fogo em testemunho da verdade.
Esta revelação anônima e inefável que o Mestre fez a Tomé é um dos pontos culminantes do Evangelho. À pergunta “que vos parece do Cristo” opõe Tomé o silêncio absoluto, que é a melhor resposta.