Mary Baker Eddy
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Porventura podes ver um inimigo a não ser que primeiro o concebas e depois contemples o objeto de tua própria concepção? O que é que te causa dano? Pode a altura, ou a profundidade ou qualquer outra criatura separar-te do Amor que é o bem onipresente, – que abençoa infinitamente a um e a todos?
Simplesmente considera como inimigo aquele que contamina, desfigura e destrona a imagem-Cristo que tu deverias refletir. Tudo aquilo que purifica, santifica e consagra a vida humana não é inimigo, por mais que soframos nesse processo. Escreve Shakespeare: “Doce é o fruto da adversidade.” Disse Jesus:
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós …pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.”A lei hebraica, com o imperativo “Não farás isto”, “Não farás aquilo”, com suas exigências e condenações, só pode ser cumprida por meio da bênção do evangelho. Então, “Bem-aventurados sois, pois a consciência do bem, da graça e da paz vem por meio da aflição corretamente compreendida, sendo santificada pela purificação que traz à carne, – ao orgulho, à ignorância acerca do próprio eu, à obstinação, ao egotismo, à justificação própria. Doces são, de fato, esses resultados do uso do divino cajado! Quão certo está o Pastor de Israel em fazer passar todo o Seu rebanho, sob Seu cajado, rumo ao Seu redil; enumerando assim cada uma das ovelhas e dando-lhes, por fim, um refúgio contra os elementos da terra.
“Amai os vossos inimigos” é idêntico a “Não tendes inimigos”. Qual é a relação entre essa conclusão e aqueles que te odiaram sem motivo? Simplesmente que aqueles desafortunados indivíduos são, virtualmente, teus melhores amigos. Antes de mais nada, e em última análise, eles estão te beneficiando de uma forma que vai muito além do conceito de bem que tu possas ter no momento.
Aqueles a quem chamamos de amigos parecem adoçar o cálice da vida e enchê-lo com o néctar dos deuses. Levamos esse cálice aos lábios, mas ele nos escapa das mãos e cai em fragmentos, diante de nossos olhos. Talvez, tendo saboreado seu vinho tentador, fiquemos embriagados; talvez nos entreguemos ao sonho letárgico, imbuídos de autossatisfação; ou então, voluntariamente ponhamos de lado, como insípido e indigno de ser humanamente almejado o conteúdo desse cálice de prazer humano egoísta, que perdeu o sabor.
E por que razão nós conseguimos continuar desfrutando desse conceito desvanecente, com suas deliciosas formas de amizade, com as quais os mortais aprendem a gratificar-se nos prazeres pessoais e se acostumam a uma paz traiçoeira? Porque esse conceito é o único e grande perigo na senda tortuosa que ruma para o alto. Uma noção equivocada sobre o que constitui a felicidade é mais desastrosa para o progresso humano do que tudo o que um inimigo ou uma inimizade possam impor à mente ou inocular em seus propósitos e realizações, para assim entravar as alegrias da vida e aumentar suas tristezas.