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No entanto, o corpo carnal tem apetite pela comida, devido à necessidade de se sustentar. Da mesma forma, sente desejos sexuais, pela necessidade de impedir a extinção da espécie. Por isso, homens e mulheres que estão na plenitude sexual sentem atração uns pelos outros. Encaro esse fato como uma realidade dolorosa em face do amor verdadeiramente espiritual.
Um ato libidinoso como o de apalpar o órgão genital da mulher não é expressão de um amor verdadeiro, e sim comportamento semelhante ao de um cachorro. O verdadeiro amor é aquele que transcende a carne. É um sentimento ligado unicamente ao espírito. O amor se torna impuro quando nele se mistura o desejo carnal.
É lamentável que muitos intelectuais e jovens de hoje, ao pregarem o amor livre, estejam na verdade propalando a “livre manifestação” a “livre prática do sexo”.
Quando Cristo jejuava às margens do rio Jordão, apareceu o demônio”… e lhe mostrou todos os reinos do mundo, e a glória deles.” (Mateus 4:8). E tentou-o dizendo: “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares.” (Mateus 4:9).
Na expressão “todas as glórias”, estão incluídos também os prazeres carnais. O diabo, o satã e a serpente, que aparecem na Bíblia Sagrada e nas literaturas budistas, são símbolos dos prazeres dos sentidos ou dos desejos carnais. Prostrar-se diante do demônio significa a derrota do Eu verdadeiro.
Na literatura budista chamada Vimalakirtinirdésa-sutra, consta uma passagem em que algumas feiticeiras recebem a ordem do príncipe das trevas para voltarem ao palácio, sob a promessa de que lá poderão desfrutar os prazeres dos sentidos, ou seja, a satisfação dos “desejos carnais”. Mas elas se recusam a voltar porque, tendo sido influenciadas por Vimalakirti, haviam se afastado dos prazeres dos sentidos, ou seja, dos “desejos carnais”, e se encontravam já num estágio mais elevado, o de buscar a alegria verdadeira, eternamente inesgotável. Elas pedem a Vimalakirti que lhes mostre essa alegria eterna. Ele lhes diz para esperarem um momento, e logo retorna com pequeno castiçal. Pega uma vela, acende-a com o lume eternamente inextinguível, coloca-a no castiçal e diz: “Eis o lume infinito, que darei a vocês.” Trata-se de uma metáfora. Essa passagem ensina que devemos buscar a alegria espiritual perene como o lume infinito.
Numa peça teatral que escrevi, baseando-me neste sutra budista, existe a seguinte passagem:
“Este é o lume infinito, símbolo da Luz da Verdade que extingue a ilusão. Representa a Luz do despertar espiritual, que jamais se apagará. Com uma vela acesa podem-se acender milhões de outras velas. Assim também é a luz do despertar espiritual. Ela é infinita, porque, por mais que a distribuamos aos outros, não enfraquece. Pelo contrário, intensifica-se mais e mais. Se vocês, que despertaram para a Verdade, transmitirem aos outros a Luz da Verdade, até mesmo o palácio do demônio Paplyas tornar-se-á um lugar pleno de Luz. O mundo ao nosso redor é reflexo de nossa própria mente. Aonde quer que vamos, o ambiente ao nosso redor se preencherá de Luz, contanto que mantenhamos em nossa mente a Luz da Verdade. Agora voltem para o palácio de onde vieram. Chegou o momento em que até mesmo no palácio do demônio Paplyas irá brilhar a Luz da Verdade.”
A tentação pelos prazeres dos desejos carnais se desvanece diante da verdadeira alegria espiritual.
Há pessoas que sofrem de “doença da paixão”. São as que se sentem muito solitárias se não estiverem namorando e vivem buscando novos amores. Como não conseguem sentir a verdadeira alegria espiritual, tentam buscar compensação nos prazeres carnais momentâneos.
Devemos buscar a terna alegria espiritual, pois os prazeres dos sentidos são inevitavelmente limitados e em segundos se desvanecem por completo. Eles se assemelham a fogos de artifício: são difíceis de serem mantidos por mais de uma hora. A alegria que dura pouco não é o “lume infinito”. A Verdade, sim, é o lume infinito, pois, se acendermos a Luz da Verdade, poderemos iluminar o espírito de milhões de pessoas. Se acendermos a luz da alegria espiritual que se alcança pelo conhecimento da Verdade, milhares e milhares de pessoas serão iluminadas ao mesmo tempo. Mesmo que a fonte de luz seja única, podemos multiplicá-la infinitamente; por mais que partilhemos a luz, o seu brilho não diminuirá. Assim é a Luz da Verdade.
Se transmitirmos os ensinamentos de “A Verdade da Vida” para uma pessoa, ela obterá a cura de doenças, terá harmonia no lar e, mesmo que não obtenha graças materiais, conseguirá a plenitude da alegria espiritual. E, se essa pessoa transmitir a Verdade para uma outra pessoa, esta também sentirá essa alegria espiritual, e assim sucessivamente. Você nada perderá pelo fato de ter transmitido a Verdade para outras pessoas. Ao contrário, sentir-se-á feliz só de imaginar a alegria dos que conheceram a Verdade, e achará que valeu a pena ter praticado boa ação. E, então, você se sentirá mais feliz ainda.
O Prof. Glenn Clark, num de seus livros, diz como deve se comportar um missionário, no caso de uma adepta apaixonar-se por ele e lhe declarar amor. Em casos como esse, o missionário, em vez de repelir categoricamente esse amor, deve aconselhar a adepta: “Estou junto com Deus. Se me ama, ame a Deus. Procure buscar a realização do amor que tem por mim, dedicando-se à pregação do Caminho de Deus.” E, dessa forma, para não deixá-la à mercê do desejo carnal, deve orientá-la para que se esforce no sentido de sublimar esse amor e elevar-se em direção ao amor a Deus. É um conselho realmente sábio.
Provavelmente, Maria Madalena também se aproximou de Jesus com intenções amorosas. Mas ele não a rejeitou. Para impedi-la de cair na tentação carnal, orientou-a para que sublimasse esse amor e o transformasse em alegria espiritual pura e eterna.
No sentimento que comumente é chamado “amor”, estão mesclados vários elementos impuros sensuais. Devemos eliminar esses elementos impuros e sublimar o nosso amor. Por mais que momentaneamente pareça agradável, o prazer dos sentidos acaba se transformando em sofrimento, se durar por muito tempo. Devemos conscientizar que os prazeres dos sentidos são efêmeros; que eles não são existência verdadeira; e, a partir dessa conscientização, empenharmo-nos na sublimação do amor até atingir a alegria espiritual eterna indestrutível.
Em resumo, os prazeres dos sentidos carnais esgotam-se e desaparecem, ao passo que a alegria proveniente do conhecimento da Verdade é como luz inextinguível.
O primeiro amor, puro e ingênuo, transcende a carne e faz a pessoa temer que esse belo sentimento seja mesclado com o desejo carnal. Porém, os jovens que já tiveram experiência sexual, ou as pessoas adultas, frequentemente confundem o amor com o desejo carnal. Por isso, alguns homens dizem: “Quero que ela seja minha, custe o que custar, pois eu a amo”. Nesse caso, o amor foi vencido pelo desejo carnal.
Não podemos cair na tentação de satanás, ou seja, na tentação dos sentidos materiais. Jesus disse: “Vai-te, satanás.” (Mateus 4: 10). Devemos expulsar o demônio chamado “desejo carnal”, que se oculta sob o belo disfarce de amor, enfrentando-o com a Luz da Verdade. O demônio fugirá quando levantarmos alto o lume da Verdade.
No sutra budista, já citado neste artigo, há uma passagem em que o príncipe das trevas diz: “Reduza um pouco essa luz, por favor! Diante da Luz da Verdade tão intensa, as forças me fogem e não posso voltar ao meu palácio. Reduza a luz, por caridade!”
O demônio não é existência verdadeira. Por isso não consegue permanecer no lugar onde resplandece a Luz da Verdade, e acaba desaparecendo.