QUE É DEUS – III (Final)

QUE É DEUS?

(A VIDA E O ENSINAMENTO DOS

MESTRES DO ORIENTE)

Baird Spalding

(III Final)

“Por mais de cinquenta anos, depois daquele dia na cruz, ensinei e vivi com meus discípulos, muitos dos quais eu amava muitíssimo. Naqueles dias, nós nos reuníamos num lugar tranquilo fora da Judéia. Ali estávamos livres dos olhares indiscretos da superstição. Muitos adquiriram ali os grandes dotes e levaram a cabo um grande trabalho. Vendo, então, que, se eu me ausentasse por algum tempo, eu seria capaz de ensinar e ajudar a todos, ausentei-me. Além disso, eles estavam dependendo de mim em lugar de depender de si mesmos; e, no intuito de tomá-los autoconfiantes, era mister que eu me afastasse. Se eles tinham vivido em íntima associação comigo, não teriam podido encontrar-me de novo se o quisessem?

“A cruz foi, no princípio, o símbolo da maior alegria que o mundo jamais conheceu. O fundamento da cruz é o lugar em que o homem pisou na terra pela primeira vez e, portanto, a marca que simboliza a aurora de um dia celestial aqui na terra. Se vocês quiserem rastreá-la constatarão que a cruz desaparece de todo e que ela é o homem em atitude de devoção, de pé no espaço com os braços erguidos num gesto de bênção, mandando seus dotes a humanidade, derramando suas dádivas livremente em todas as direções.

“Quando vocês souberem que o Cristo é a vida apropriada dentro da forma, a energia crescente que o cientista vislumbra, mas não sabe de onde vem; quando sentirem com o Cristo que a vida é vivida de modo que pode ser dada livremente; quando aprenderem que o homem é obrigado a viver ao lado da constante dissolução das formas, e que o Cristo viveu para desistir do que o corpo dos sentidos ambicionava, pelo bem que ele não podia gozar naquele momento — vocês serão o Cristo. Quando se virem como parte da vida maior, mas dispostos a sacrificar-se pelo bem do todo; quando aprenderem a agir direito sem ser afetados pelo resultado da ajuda; quando aprenderem livremente a renunciar à vida física e a tudo o que o mundo tem para dar (isto não é nenhum sacrifício de si mesmo, pois quanto mais derem de Deus verificarão que têm mais para dar, embora, às vezes, o dever pareça exigir tudo o que a vida tem para dar. Vocês conhecerão também que aquele que quer salvar sua vida a perde) verão que o ouro puro está na parte mais profunda da fornalha, onde o fogo o purificou completamente. Vocês encontrarão grande alegria em saber que a vida que deram a outros é a vida que conquistaram. Saberão que receber é dar livremente; que, se abdicaram da forma mortal, uma vida mais elevada prevalecerá. Terão a alegre certeza de que uma vida assim conquistada é conquistada para todos.

“Vocês precisam saber que a Grande Alma de Cristo pode descer ao rio e que o andar sobre as águas só tipifica a simpatia que vocês sentem pela grande necessidade do mundo. Então vocês serão capazes de ajudar seus semelhantes sem se jactarem de virtuosos; podem passar o pão da vida às almas famintas que vieram procurá-los, mas esse pão nunca diminuirá pelo fato de ser dado; precisam continuar com energia e saber plenamente que são capazes de curar todos os que vieram procurá-los, doentes ou cansados ou pesadamente carregados, com a Palavra que deixa inteira a alma; vocês são capazes de abrir os olhos dos cegos por ignorância ou por opção. (Não importa quão baixo esteja a alma do cego, pois ele precisa sentir que a alma de Cristo está ao seu lado, e precisa descobrir que vocês pisam com pés humanos o próprio solo que ele pisa. Então conhecerão que a verdadeira Unidade do Pai e do Filho está dentro e não fora. Saberão que precisam permanecer serenos quando o Deus exterior é posto para fora e somente o Deus interior permanece. Precisam ser capazes de conter o grito de dor e de medo ao soarem as palavras ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’ Mesmo assim, nessa hora, não precisam sentir-se sozinhos, pois devem saber que estão com Deus; que estão mais próximos do coração do Pai amante do que nunca. Precisam saber que, na hora em que tocam a tristeza mais profunda, é a hora em que começa o seu maior triunfo. Com tudo isso, vocês precisam saber que a dor não pode tocá-los.

“A partir dessa hora, sua voz soará com um grande canto livre, pois saberão que vocês são o Cristo, a luz que brilhará entre os homens e para os homens. Conhecerão a treva que existe em toda a alma que não encontra uma mão auxiliadora para apertar enquanto caminha pela estrada acidentada antes de descobrir o Cristo no seu interior.

“Vocês precisam saber que são realmente divinos e, sendo divinos, precisarão ver que todos os homens são como vocês. Saberão que há lugares escuros que terão de trans­por com a luz que levarão para o mais alto, e a alma de vocês ressoará em louvor do fato de poderem prestar serviço a todos os homens. E então, com um grito alegre e livre, subirão ao seu ponto mais alto na união com Deus.

“Agora sabem que não há substituição de sua vida por outras vidas, nem de sua pureza pelos pecados dos outros; mas que todos são espíritos alegres e livres em si mesmos e em Deus. Sabem que poderão alcançá-los, ao passo que eles não podem alcançar-se uns aos outros; que não podem deixar de dar sua vida pela vida de cada alma, para que ela não pereça. Entretanto, precisam ser tão reverentes para com essa alma que não derramarão sobre ela uma torrente de vida, a menos que a vida dessa alma se abra para recebê-la. Mas derramarão livremente sobre ela uma torrente de amor, de vida e de luz, de modo que, quando ela abrir as janelas, a luz de Deus entrará por elas e a iluminará. Saberão que em cada Cristo que nasce, a humanidade sobe mais um degrau. E saberão muito bem que vocês têm tudo o que tem o Pai; e, tendo-o todos, é para todos usarem. Precisam saber que à medida que se elevam e são fiéis, elevam consigo o mundo inteiro; pois à medida que palmilham o caminho, este se torna mais plano para os seus semelhantes. Precisam ter fé em si mesmos, sabendo perfeitamente que essa fé é Deus dentro de vocês. Finalmente, precisam saber que são um templo de Deus, uma casa que não foi feita com as mãos, imortal assim na terra como no céu.

“E eles cantarão de vocês, ‘Salve todos, Salve todos, Aí vem o Rei. E, vejam, Ele está sempre com vocês. Vocês estão em Deus, e Ele está em vocês’.”

Jesus levantou-se, dizendo-se obrigado a deixar-nos, porque devia estar em casa de outro Irmão, na mesma aldeia, naquela noite. Todos os presentes se levantaram. Jesus abençoou a todos e, em companhia de dois participantes da reunião, saiu da sala.

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