O PEIXINHO

Anthony de Mello


“Por favor, por favor!” — disse um peixe do mar a um outro peixe. “Você que deve ter mais experiência, talvez possa ajudar-me…Então me diga: Onde posso encontrar a coisa imensa que chamam de Oceano? Em toda parte eu o venho buscando sem sucesso.”

“Mas é precisamente no Oceano que você está nadando”, disse o outro.

“Oh…isto? Mas é pura e simplesmente água!” disse o peixe mais jovem, “eu procuro é o grande Oceano!” e lá se foi nadando, muito desapontado, a buscar noutra parte.

O homem veio ter com o Mestre, vestido com roupas dos Sannyasi e foi, também, na língua deles que falou: “Há muitos anos já que ando em busca de Deus. Deixei minha casa e O procurei em todos os lugares onde dizem que Ele está: nos cumes das montanhas, no coração do deserto, no silêncio dos mosteiros e nas favelas dos pobres.

“E você O encontrou?” pergunta o Mestre.

“Seria orgulho meu e falsidade se dissesse que sim. Não, não O encontrei. E você, Mestre?”

Que lhe podia o Mestre responder? O sol da tarde entrava pela janela do quarto, em raios dourados. Lá fora, milhares de pardais, na copa de uma árvore, faziam uma algazarra alegre e enorme. Ouvia-se, ao longe, na auto-estrada, o barulho do tráfego. Um  mosquito zumbia junto ao ouvido do Mestre, avisando-o de que já estava para picá-lo. Entretanto, o bom homem permaneceu lá sentado e disse que nem ele havia encontrado Deus e que continuava ainda procurando.

O visitante deixou o quarto do Mestre desiludido e saiu para procurar em outra parte.

Pois é, peixinho do mar, pare de procurar. Não há nada a buscar só com os olhos da face. Pare um pouco e use seus olhos interiores. Abra-os bem: com eles é impossível não descobrir!

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